quarta-feira, 28 de outubro de 2020

A exploração do estreito

Terá sido a 28 de outubro que as naus levantaram âncora e iniciaram o caminho que já antes a San Antonio e a Concepción percorreram. 

A exatidão dos dias é discutível. O nome que Fernão de Magalhães terá dado ao estreito, "Canal de Todos os Santos", remete para o início de novembro, quando a armada estaria a fazer a sua travessia. Mas em que ponto, ou em que momento, é que Magalhães lhe terá dado esse nome?

«Antes de a armada entrar pelo estreito, Magalhães terá questionado se deveria avançar-se ou não. Apesar de Estevão Gomes [piloto português da nau San Antonio] ter sido da opinião que deviam regressar a Espanha para ali se aprestar outra armada para dar seguimento à viagem, seguiu-se o parecer do capitão-mor pois este respondeu-lhe que se passaria avante até cumprir a promessa feita ao imperador, mesmo que houvesse de comer os coiros que forram o topo dos mastros.

José Manuel Garcia, Fernão de Magalhães - Herói, traidor ou mito

«Aquelas montanhas, do estreito de Magalhães, estão todas cobertas de neve. Portanto aquilo é tudo complicado, um vento muito forte, correntes muito fortes - embora o estreito de Magalhães seja razoavelmente largo, exceto na entrada que é mais estreita, mais ou menos a distância que vai de Belém à Trafaria, na foz do Tejo. Dá para passarem perfeitamente os navios. Portanto, são as condições atmosféricas e as correntes marítimas que, nesses 600 quilómetros, tornam difícil a navegação. E, sobretudo, porque tem muitas ilhas e tem muitos contornos difíceis, mas, mesmo assim, os navios, com a mestria de Fernão Magalhães e dos seus pilotos, conseguiram.»

É graças a Magalhães que conhecemos a Terra tal como ela é
entrevista ao historiador José Manuel Garcia
Diário de Notícias, 21 de outubro de 2020

A navegação chegaria a uma bifurcação, momento em que Magalhães mandou a San Antonio e a Concepción explorarem um dos canais, enquanto a Trinidad e a Victoria seguiram a rota que levavam, até atingirem um ponto seguro, onde ficaram a aguardar pelas outras naus, junto ao que viriam a chamar rio das Sardinhas ou Puerto de las Sardinas, na baía de Fortescue. 


Baía de Fortescue vista de terra

quinta-feira, 22 de outubro de 2020

A exploração da baía

Os pilotos terão manifestado a convicção de que aquela baía era fechada. Deviam avançar!

Magalhães insistiu em explorar a enseada.

A San Antonio e a Concepción receberam a missão de avançar tanto quanto possível na exploração do interior da baía, mas de regressar no prazo máximo de 5 dias.

A Trinidad e a Victoria ficaram a explorar a parte exterior da baía. 

Uma tempestade - furacão? - fustigou a baía. As duas naus que aguardavam nada sabiam do que poderia ter acontecido às duas que partiram para a exploração do interior da enseada.

Ao fim do prazo dado (ou já depois?) as duas naus estavam de regresso. E quando toda a frota ficou à vista, a San Antonio e a Concepción dispararam salvas de canhões e içaram todos os pavilhões e todas as auriflamas: era a "linguagem da vitória".

Estas duas naus tinham conseguido escapar à tempestade e entre as reentrâncias descobriram um canal. Nova enseada, novo canal, nova enseada...


«Assim foram navegando durante três dias, sem encontrarem o fim daquela espantosa via marítima. Não conseguiram achar a saída definitiva, mas era impossível que aquela estranha passagem fosse um rio, pois a água mantinha-se invariavelmente salgada, a maré alta e a maré baixa deixavam as suas marcas regulares e uniformes na areia da praia. (...)»

 Stefan Zweig, Magalhães - o homem e o seu feito

Estaria encontrada a passagem...


quarta-feira, 21 de outubro de 2020

A descoberta do Estreito de Magalhães na Escola Paulo da Gama

A Escola Básica 2,3 Paulo da Gama celebrou a data comemorativa dos 500 anos do início do descobrimento da ligação entre os oceanos Atlântico e Pacífico.


A 21 de Outubro de 1520, dobrado o Cabo das Virgens, ainda Fernão de Magalhães não sabia que estava à porta da tão desejada passagem para o "Mar do Sul". Mas estava próximo, tão próximo, desse momento tão desejado... 

Com a leitura de um texto sobre a viagem de Magalhães por todas as turmas da escola (a que associámos a apresentação de mapas e imagens), articulámos o projeto 10 Minutos de Leitura (Ler Mais - do Plano Nacional de Leitura) com as comemorações magalhânicas.

Associámo-nos, assim, às outras escolas portuguesas da Rede de Escolas Magalhânicas e a escolas de outros países, como o Chile, a Argentina ou a Espanha, que também assinalam os 500 anos da descoberta do Estreito de Magalhães.




A descoberta do Estreito

No dia 21 de outubro de 1520, foi avistado um cabo formado por uma vasta ponta de areia. Foi-lhe dado o nome de Cabo das Virgens ou das Onze Mil Virgens, assinalando o feriado de Santa Úrsula e a lenda das Onze Mil Virgens que a teriam acompanhado. Atualmente, chama-se Punta Dungenesse. 

«(...) e ali vimos uma abertura como baía, e tem à entrada, à mão direita, uma ponta de areia muito comprida; o cabo que descobrimos antes desta ponta chama-se o "cabo das Virgens"; a ponta de areia está em 52 graus de latitude, e de longitude está 52 graus e meio; da ponta de areia à outra parte serão cerca de 5 léguas; dentro desta baía achámos um estreito que terá uma légua de largura

Francisco Albo*, Diário ou roteiro da viagem de Magalhães


«Toda a tripulação acreditava tão firmemente que o estreito não tinha saída para o oeste que não era prudente mesmo ir procurá-la sem ter os grandes conhecimentos do capitão-general. Este, tão hábil como valente, sabia que era preciso passar por um estreito muito oculto (...)»

Antonio Pigafetta, A Primeira Viagem em Redor do Mundo



* Francisco Albo, contratado como contramestre da nau Trinidad, ocupou o lugar de piloto da nau Victoria. Nessa condição, foi um dos 18 tripulantes que regressou a Sevilha, completando a volta ao mundo.


O Cabo das Virgens

Punta Dungeness, o Cabo das Virgens

«Finalmente, ao terceiro dia [depois de saírem do rio Santa Cruz], 21 de Outubro de 1520, vislumbra-se um promontório de recifes brancos frente a uma praia de estranho recorte e ali, por trás da saliência que Magalhães batizou de "Cabo de las Virgines", em honra dos santos do calendário, abre-se uma enseada profunda de águas negras. Os navios aproximam-se. Paisagem estranha, imponente e severa aquela! Encostas caindo a pique, irregulares e abissais, e muito ao longe - um espetáculo que há muito não se via - altos cumes cobertos de neve branca. Mas que morta parece ser esta vastidão! Nem um ser humano, raramente uma árvore, um arbusto; só o sibilar e o bramir incessantes do vento percorrem o silêncio parado desta enseada fantasmagoricamente deserta. Os tripulantes olham lugubremente para aquelas águas sinistras. Parece-lhes um absurdo que aquela baía cercada de montanhas, com as suas águas negras como as do Hades, possa ir dar a uma praia plana ou mesmo ao "Mar del Sur", luminoso e ensolarado.»

 Stefan Zweig, Magalhães - o homem e o seu feito



terça-feira, 20 de outubro de 2020

Sessão comemorativa "Fernão de Magalhães - 500 Anos da Descoberta do Estreito"

 



500 Anos da Descoberta do Estreito

A partir de hoje e até ao próximo dia 24, decorre um conjunto de iniciativas promovidas pela Estrutura de Missão para as Comemorações do V Centenário da Circum-Navegação para assinalar a data da descoberta do Estreito de Magalhães.

Hoje, entre as 15:00h e as 17:30h, irá decorrer, via internet, a partir do Pavilhão do Conhecimento-Ciência Viva, uma ação multimédia que inclui:

  • A apresentação da Banda Desenhada “A Viagem mais Longa”; 
  • A apresentação do Jogo Didático Digital “Circum-Navegação Magalhães/Elcano”; 
  • A apresentação do projeto Miniveleiros (pequenas embarcações a largar no Estreito de Magalhães);
  • Momentos de ateliês científicos relacionados com a literacia do mar.

domingo, 18 de outubro de 2020

Partida do rio Santa Cruz

Os dois meses passados em Santa Cruz foram dedicados ao reabastecimento de água, lenha e peixe.

A 18 de outubro, Magalhães deu ordem para que a viagem prosseguisse. Antes da partida, foi celebrada missa. 

Os navios navegaram ao longo da costa inóspita, na direção sudoeste, contando ainda com o mar alterado e a oposição violenta do vento. 



domingo, 11 de outubro de 2020

O eclipse do Sol

Na cronologia dos factos marcantes da viagem, o Almirante Teixeira da Mota indica que Andrés de San Martín, o cosmógrafo da armada, observou um eclipse do Sol no rio de Santa Cruz.

Um eclipse a partir do qual calculou o valor da longitude (61º), muito próximo dos 63º que seriam o seu valor efetivo. A medição da longitude era um desafio!

No diário ficcionado de Fernão de Magalhães, José Manuel Núñez de la Fuente descreve o momento, embora refira "eclipse da Lua".

«Sendo entre a terça e a sexta de quinta-feira, aos onze dias de outubro do ano presente, pudemos ver um sinal muito prodigioso no céu, ocultou-se a cor do Sol que mudou em avermelhado e escureceu todo o horizonte, ficando todo aquele termo em que estávamos muito em penumbra, do que adveio pena profunda e soçobro forte no ânimo dos homens que viram tal como sinal de infortúnio. Depois disto conversei com o astrólogo San Martín, que disse ser um eclipse da Lua nesta parte do polo antártico, tendo as afirmações do astrólogo como certas e de razão, por conta de os já ter visto antes.»

José Manuel Núñez de la Fuente, Diário de Fernão de Magalhães