sexta-feira, 12 de junho de 2020

A captura de patagões

Os primeiros navegadores a atingirem partes da terra antes incógnitas tinham sempre a incumbência de trazer consigo alguns exemplares de plantas, minérios, animais e... outros humanos, representantes de grupos étnicos desconhecidos dos europeus.

Trazer patagões era um enorme desafio!...

Para os marinheiros, como escreveu Stefan Zweig, capturar vivo um tal "gigante" não é menos arriscado do que agarrar uma baleia pela barbatana.

Mas todos os meios serviam:

Foram oferecendo a dois patagões os pequenos presentes de que eles tanto gostavam, enchendo-lhes as mãos. Mostraram-lhes um par de grilhões que tilintavam da forma que muito lhes agradava. Os patagões deixaram, ingenuamente, que as correntes lhes fossem postas nos tornozelos.

Cerrados os fechos, os patagões estavam em condições de serem postos no navio, por muito que se procurassem defender.

«A Casa de Contratacion quer curiosidades! Indefesos, são arrastados para os navios, como bois subjugados, e aí acabarão por perecer miseravelmente à míngua de alimento. Este ataque pérfido dos "transmissores de cultura" destrói as boas relações de um só golpe. A partir daí, os patagãos mantêm-se afastados dos impostores (...)»
Stefan Zweig, Magalhães - o homem e o seu feito


segunda-feira, 8 de junho de 2020

Os patagões, grandes comedores

«Estes povos, como já disse, vestem-se com a pele de um animal, com a qual cobrem também as suas cabanas, que transportam para aqui ou para ali, para onde mais lhes convém, não tendo residência fixa, acampando, como os boémios, ora num local, ora noutro. Alimentam-se ordinariamente de carne crua e de uma raiz doce a que chamam capac. Comem muito: os dois que apanhámos comiam, cada um, um cabaz cheio de biscoitos por dia e bebiam de um trago meio balde de água. Devoravam os ratos crus, mesmo sem os esfolar.»

António Pigafetta, A Primeira Viagem em Redor do Mundo


sábado, 6 de junho de 2020

Os patagões (2)

«O comandante-chefe mandou dar-lhe de comer e de beber e, entre outras bugigangas, mandou trazer um grande espelho em aço. O gigante, que não tinha a menor ideia do que era este móvel e que sem dúvida pela primeira vez estava a ver a sua figura, retrocedeu tão espantado que deitou por terra quatro dos nossos que estavam atrás dele. Demos-lhe alguns guizos, um pequeno espelho, um pente e algumas contas, e em seguida foi conduzido a terra, sendo acompanhado por quatro homens bem armados.
O seu companheiro, que não tinha querido subir a bordo, vendo-o regressar a terra, correu a avisar e a chamar os outros, que, notando que a nossa gente armada se aproximava deles, se colocaram em fila, sem armas e quase nus, dando início imediatamente às suas danças e cantos, durante os quais levantavam ao céu o dedo indicador (...) Os nossos convidaram-nos, através de sinais, a que viessem até às nossas naus, indicando-lhes que os ajudariam a transportar aquilo que quisessem levar consigo. E com efeito vieram, mas os homens, que só conservavam consigo o arco e as flechas, obrigavam as mulheres a levar tudo, como se fossem umas bestas de carga.
As mulheres não são tão altas como os homens, mas em compensação são mais corpulentas. Os seus peitos descaídos têm mais de um pé de comprimento. Pintam-se e vestem-se da mesma maneira que os seus maridos, mas usam uma pele fina que lhes cobre as partes baixas. E ainda que aos nossos olhos estivessem longíssimo de ser belas, os seus maridos pareciam muito ciumentos.»
Antonio Pigafetta, A Primeira Viagem em Redor do Mundo

Patagões no Atlas de Diogo Homem


quarta-feira, 3 de junho de 2020

Os patagões

Terá sido pelos princípios de junho que os teuelches fizeram a sua aparição.
Eram caçadores nómadas, de aspeto primitivo, que causaram espanto pela sua elevada estatura.

«Um dia, quando menos esperávamos, apresentou-se-nos um homem de estatura gigantesca. Estava na praia quase nu, a cantar e a dançar ao mesmo tempo e a atirar areia para cima da cabeça. (...) Ao ver-nos, manifestou muita admiração e levantou um dedo para o alto, querendo sem dúvida significar com isso que pensava que tínhamos descido do céu.
Este homem era tão alto que as nossas cabeças mal lhe chegavam à cintura. Era bem constituído, com o rosto largo e pintado de vermelho, os olhos rodeados de amarelo, e com duas manchas em forma de coração nas bochechas. Os seus cabelos, que eram poucos, pareciam ter sido branqueados com um qualquer pó. A sua roupa, ou melhor, a sua capa, era de peles cosidas entre si, de um animal que abunda naquela zona (...). Este homem tinha também uma espécie de calçado feito da mesma pele.»
Antonio Pigafetta, A Primeira Viagem em Redor do Mundo

Os pés enrolados em peles pareciam muito grandes e as pegadas que deixavam eram enormes.

«O nosso capitão deu a este povo o nome de "patagones".»
A terra é a Patagónia - "a última região antes do fim do mundo".