sábado, 6 de junho de 2020

Os patagões (2)

«O comandante-chefe mandou dar-lhe de comer e de beber e, entre outras bugigangas, mandou trazer um grande espelho em aço. O gigante, que não tinha a menor ideia do que era este móvel e que sem dúvida pela primeira vez estava a ver a sua figura, retrocedeu tão espantado que deitou por terra quatro dos nossos que estavam atrás dele. Demos-lhe alguns guizos, um pequeno espelho, um pente e algumas contas, e em seguida foi conduzido a terra, sendo acompanhado por quatro homens bem armados.
O seu companheiro, que não tinha querido subir a bordo, vendo-o regressar a terra, correu a avisar e a chamar os outros, que, notando que a nossa gente armada se aproximava deles, se colocaram em fila, sem armas e quase nus, dando início imediatamente às suas danças e cantos, durante os quais levantavam ao céu o dedo indicador (...) Os nossos convidaram-nos, através de sinais, a que viessem até às nossas naus, indicando-lhes que os ajudariam a transportar aquilo que quisessem levar consigo. E com efeito vieram, mas os homens, que só conservavam consigo o arco e as flechas, obrigavam as mulheres a levar tudo, como se fossem umas bestas de carga.
As mulheres não são tão altas como os homens, mas em compensação são mais corpulentas. Os seus peitos descaídos têm mais de um pé de comprimento. Pintam-se e vestem-se da mesma maneira que os seus maridos, mas usam uma pele fina que lhes cobre as partes baixas. E ainda que aos nossos olhos estivessem longíssimo de ser belas, os seus maridos pareciam muito ciumentos.»
Antonio Pigafetta, A Primeira Viagem em Redor do Mundo

Patagões no Atlas de Diogo Homem


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