Punta Dungeness, o Cabo das Virgens
«Finalmente, ao terceiro dia [depois de saírem do rio Santa Cruz], 21 de Outubro de 1520, vislumbra-se um promontório de recifes brancos frente a uma praia de estranho recorte e ali, por trás da saliência que Magalhães batizou de "Cabo de las Virgines", em honra dos santos do calendário, abre-se uma enseada profunda de águas negras. Os navios aproximam-se. Paisagem estranha, imponente e severa aquela! Encostas caindo a pique, irregulares e abissais, e muito ao longe - um espetáculo que há muito não se via - altos cumes cobertos de neve branca. Mas que morta parece ser esta vastidão! Nem um ser humano, raramente uma árvore, um arbusto; só o sibilar e o bramir incessantes do vento percorrem o silêncio parado desta enseada fantasmagoricamente deserta. Os tripulantes olham lugubremente para aquelas águas sinistras. Parece-lhes um absurdo que aquela baía cercada de montanhas, com as suas águas negras como as do Hades, possa ir dar a uma praia plana ou mesmo ao "Mar del Sur", luminoso e ensolarado.»
Stefan Zweig, Magalhães - o homem e o seu feito
Sem comentários:
Enviar um comentário