terça-feira, 6 de setembro de 2022

O regresso da nau Vitória

No dia 6 de setembro de 1522, chegava a Sanlúcar de Barrameda, na foz do rio Guadalquivir, a nau Vitória comandada por Juan Sebastián Elcano, com 18 tripulantes e 3 nativos das ilhas Molucas.

Três anos antes (20 de setembro de 1519), tinham partido do mesmo local os cinco navios da armada comandada por Fernão de Magalhães, com destino àquelas ilhas.

O navegador português morreu numa batalha, na ilha de Mactán (Filipinas), e foi o basco Elcano a comandar a única nau que regressou a Espanha depois de cumprir a primeira volta ao Mundo feita de uma forma contínua e direta.  

Pelo itinerário seguido, calcula-se que a distância percorrida teria ultrapassado os 60 mil km.

domingo, 29 de novembro de 2020

A travessia do Estreito

Pigafetta escreveu: «Enfim, creio que não há no mundo melhor estreito do que este.»

Poderá ter exagerado, mas quem não o faria na situação em que se encontravam?

Após a travessia do estreito, que demorou 38 dias - grande parte deles à espera da San Antonio, quando esta desapareceu - calculou-se que ele teria cerca de 110 léguas - 610 km aproximadamente.


«A passagem lenta pelo estreito de paredes altaneiras terá sido um prolongamento dessa angústia e a chegada ao oceano Pacífico terá suscitado um júbilo e uma alegria fáceis de imaginar mas impossíveis de recriar. Esse foi o primeiro triunfo de Magalhães, ou seja, o primeiro grande contributo para a geografia com a descoberta da passagem que era procurada há 28 anos.»

João Paulo Oliveira e Costa, O homem que descobriu o planeta azul

Desenho de Bastien Orenge e Thomas Verguet
na BD Magalhães até ao fim do mundo


Se Magalhães denominou o estreito de "Canal de Todos os Santos", Pigafetta refere-o como "Estreito da Patagónia". Outras fontes chamam-lhe "Estreito da Vitória" e "Estreito da Madre de Deus".



À sua saída, «é com uma tonitruante salva de artilharia que as três pequenas naus solitárias saúdam respeitosamente o mar desconhecido» (Stefan Zweig).


sábado, 28 de novembro de 2020

Finalmente, o Pacífico!

Decorrido mais de um mês desde a entrada no Estreito, a armada, reduzida a 3 naus e 166 homens, fazia a sua entrada no tão desejado Mar do Sul.

Desejado foi o nome posto ao último cabo ultrapassado (o atual Cabo Pilar), "pelo muito que nos agradou vê-lo".


«E assim, pela graça de Deus, fomos singrando plenamente no Mar do Sul, a caminho das Molucas, com grande contento da gente e de mim próprio, porque fizemos aquilo que ninguém fez antes (...)

E como navegávamos por aquele mar grandíssimo como se fosse por um rio, dei em batizá-lo Pacífico.»

José Manuel Núñez de la Fuente, Diário de Fernão de Magalhães



quarta-feira, 11 de novembro de 2020

A primeira missa em território do Chile atual

A celebração de missas era corrente no decorrer da viagem ou nos momentos de paragem. À normal religiosidade da época associava-se a situação particular vivida pela armada, em perigo constante e na esperança permanente de encontrar o caminho certo.

A exemplo do que aconteceu com a Igreja argentina em Puerto de San Juan, a Igreja chilena comemorou os 500 anos da primeira missa em território atualmente do Chile.


Há referência a uma missa de agradecimentos à Virgem Maria e a Deus quando, à entrada do estreito, Magalhães recebeu a notícia de que teria sido encontrada a passagem. Mas essa terá sido celebrada a bordo.
A Diocese de Punta Arenas afirma que, a 11 de novembro de 1520, o Padre Pedro de Valderrama, capelão da expedição guiada pelo explorador Fernão de Magalhães, celebrou a primeira missa, exatamente sobre a colina do Monte Cruz.
A missa solene sucedeu à cerimónia de tomada de posse formal daquele território para a coroa espanhola - com colocação de um padrão e assento escrito - de acordo com as instruções.

Colocação da cruz no lugar da Baía das Sardinhas (Fortescue),
onde terá sido celebrada a primeira missa em território chileno


segunda-feira, 9 de novembro de 2020

Razões para a fuga da San Antonio

Sobre a fuga da San Antonio, Pigafetta conta que «o piloto tencionava aproveitar-se da escuridão da noite para voltar pelo caminho já percorrido e regressar a Espanha pela rota que acabávamos de fazer.

Este piloto era Estevão Gomes, que odiava Magalhães (...)

Esperava também levar um dos dois gigantes que tínhamos aprisionado, e que estava a bordo do seu navio, mas soubemos, no nosso regresso, que morrera ao aproximar-se da linha equinocial, por não poder suportar o calor»

José Manuel Garcia aponta como razão para o comportamento do piloto o facto de ter sido preterido a favor de Duarte Barbosa no comando da nau Victoria, quando da reorganização da capitania das naus após a rebelião no Puerto de San Julián.

Estevão Gomes já dera a opinião de que a frota, descoberto que estava a passagem para o Mar do Sul, devia voltar a Espanha. 

Gines de Mafra, marinheiro da nau Victoria, relata que, na revolta de Estevão Gomes - em quem "o capitão não tinha muita confiança" -, os tripulantes «não acudiram onde deviam, que era a defesa do seu capitão, antes foram contra ele (...) e feito isto, a nau seguiu o rumo de Castela, onde chegaram sem problemas à cidade de Sevilha, e disseram tantas mentiras que escaparam ao castigo, até que depois de muito tempo se soube a verdade.» (Ginés de Mafra, Livro que trata do descobrimento do Estreito de Magalhães)

A fuga da San Antonio contada em BD
Fernão de Magalhães - A Primeira Volta ao Mundo
por Guido Buzzelli (desenho) e Mino Milani (texto), 
nas Publicações D. Quixote (1981)

domingo, 8 de novembro de 2020

A fuga da nau San Antonio

Aproveitando a missão de exploração de um dos canais que se ofereciam à armada, o piloto da San Antonio, Estevão Gomes, concertado com outros marinheiros da nau, acionou o seu plano: fez sair a nau a toda a vela para a pressuposta exploração, aprisionou o seu capitão, Álvaro de Mesquita, tendo-o mesmo ferido quando este procurou resistir, e, passando o comando para o escrivão Jerónimo Guerra, fez a nau regressar a Espanha.

Bem a procuraram as outras naus, atrasando o prosseguimento da viagem, mas a fuga estava concretizada. 

Maqueta da nau San Antonio,
na exposição El Viaje más largo (Sevilha, setembro de 2019)

San Antonio era o maior navio da armada e transportava uma grossa parte dos abastecimentos, sobretudo as mercadorias que deveriam servir de troca junto das populações a contactar e, o que ainda era mais importante, as reservas de alimentos. 

A San Antonio chegaria em Sevilha, no dia 6 de maio de 1521, com 55 tripulantes a bordo (só dois morreram no caminho de regresso). 


A exploração do Estreito, a última da San Antonio

A navegação chegaria a uma bifurcação, momento em que Magalhães mandou a San Antonio e a Concepción explorarem um dos canais, enquanto a Trinidad e a Victoria seguiram a rota que levavam, até atingirem um ponto seguro, onde ficaram a aguardar pelas outras naus, junto ao que viriam a chamar rio das Sardinhas ou Puerto de las Sardinas, na baía de Fortescue. 


Baía de Fortescue vista de terra

«(...) os quatro navios vogaram em conjunto em direção ao estreito recém-descoberto, onde não tardaram a encontrar as duas entradas, uma a sudeste e outra a sudoeste. Magalhães mandou o San Antonio e o Concepción à frente para descobrirem qual destas duas aberturas era a primeira a conduzir ao Oceano Pacífico. Sem esperar pelo Concepción, o San Antonio partiu primeiro e nunca mais voltou.»

A Trinidad e a Victoria foram «navegando através dos estreitos até chegarem a um rio a que deram um nome relacionado com as sardinhas muito abundantes por ali naquele mês. Esperaram ali quatro dias pelo San Antonio e pelo Concepción

Edouard Roditi, Magalhães do Pacífico


terça-feira, 3 de novembro de 2020

"A Mais Longa Jornada" - documentário sobre a viagem de circum-navegação

A RTP1 estreou, ontem, A Mais Longa Jornada, um documentário sobre a viagem de circum-navegação de Fernão de Magalhães. 

A Mais Longa Jornada é da autoria do realizador espanhol Manuel H. Martín, com narração de José Rodrigues dos Santos. A produção teve o apoio da Estrutura de Missão para as Comemorações dos 500 Anos da Circum-Navegação de Fernão de Magalhães.

«A Mais Longa Jornada procura, a partir do presente, as chaves do passado e do futuro, oferecendo um diálogo entre historiadores e cientistas para nos contar uma história única e emocionante.»

O documentário estabelece o paralelo entre a primeira viagem de circum-navegação, há 500 anos, e o desafio espacial que o Homem tem pela frente: “navegar” até Marte!

«Pontos em comum: sonhos, sacrifícios, aventuras e, acima de tudo, a jornada do Homem rumo a uma nova fronteira, mais distante e mais profunda.»





quarta-feira, 28 de outubro de 2020

A exploração do estreito

Terá sido a 28 de outubro que as naus levantaram âncora e iniciaram o caminho que já antes a San Antonio e a Concepción percorreram. 

A exatidão dos dias é discutível. O nome que Fernão de Magalhães terá dado ao estreito, "Canal de Todos os Santos", remete para o início de novembro, quando a armada estaria a fazer a sua travessia. Mas em que ponto, ou em que momento, é que Magalhães lhe terá dado esse nome?

«Antes de a armada entrar pelo estreito, Magalhães terá questionado se deveria avançar-se ou não. Apesar de Estevão Gomes [piloto português da nau San Antonio] ter sido da opinião que deviam regressar a Espanha para ali se aprestar outra armada para dar seguimento à viagem, seguiu-se o parecer do capitão-mor pois este respondeu-lhe que se passaria avante até cumprir a promessa feita ao imperador, mesmo que houvesse de comer os coiros que forram o topo dos mastros.

José Manuel Garcia, Fernão de Magalhães - Herói, traidor ou mito

«Aquelas montanhas, do estreito de Magalhães, estão todas cobertas de neve. Portanto aquilo é tudo complicado, um vento muito forte, correntes muito fortes - embora o estreito de Magalhães seja razoavelmente largo, exceto na entrada que é mais estreita, mais ou menos a distância que vai de Belém à Trafaria, na foz do Tejo. Dá para passarem perfeitamente os navios. Portanto, são as condições atmosféricas e as correntes marítimas que, nesses 600 quilómetros, tornam difícil a navegação. E, sobretudo, porque tem muitas ilhas e tem muitos contornos difíceis, mas, mesmo assim, os navios, com a mestria de Fernão Magalhães e dos seus pilotos, conseguiram.»

É graças a Magalhães que conhecemos a Terra tal como ela é
entrevista ao historiador José Manuel Garcia
Diário de Notícias, 21 de outubro de 2020

A navegação chegaria a uma bifurcação, momento em que Magalhães mandou a San Antonio e a Concepción explorarem um dos canais, enquanto a Trinidad e a Victoria seguiram a rota que levavam, até atingirem um ponto seguro, onde ficaram a aguardar pelas outras naus, junto ao que viriam a chamar rio das Sardinhas ou Puerto de las Sardinas, na baía de Fortescue. 


Baía de Fortescue vista de terra

quinta-feira, 22 de outubro de 2020

A exploração da baía

Os pilotos terão manifestado a convicção de que aquela baía era fechada. Deviam avançar!

Magalhães insistiu em explorar a enseada.

A San Antonio e a Concepción receberam a missão de avançar tanto quanto possível na exploração do interior da baía, mas de regressar no prazo máximo de 5 dias.

A Trinidad e a Victoria ficaram a explorar a parte exterior da baía. 

Uma tempestade - furacão? - fustigou a baía. As duas naus que aguardavam nada sabiam do que poderia ter acontecido às duas que partiram para a exploração do interior da enseada.

Ao fim do prazo dado (ou já depois?) as duas naus estavam de regresso. E quando toda a frota ficou à vista, a San Antonio e a Concepción dispararam salvas de canhões e içaram todos os pavilhões e todas as auriflamas: era a "linguagem da vitória".

Estas duas naus tinham conseguido escapar à tempestade e entre as reentrâncias descobriram um canal. Nova enseada, novo canal, nova enseada...


«Assim foram navegando durante três dias, sem encontrarem o fim daquela espantosa via marítima. Não conseguiram achar a saída definitiva, mas era impossível que aquela estranha passagem fosse um rio, pois a água mantinha-se invariavelmente salgada, a maré alta e a maré baixa deixavam as suas marcas regulares e uniformes na areia da praia. (...)»

 Stefan Zweig, Magalhães - o homem e o seu feito

Estaria encontrada a passagem...