quarta-feira, 1 de abril de 2020

Racionamento e Missa

A decisão de Fernão de Magalhães em passar o inverno em S. Julián causou o desagrado geral.
Para agravar esse estado de espírito, ordenou um racionamento dos víveres da tripulação - a dose diária de alimentos e de vinho iria ser reduzida. Em terra, podia ser que encontrassem mais víveres.
Provocou a exaltação da tripulação.


No seu raciocínio, que não estava errado, só dali a muitos meses é que iriam atingir as férteis terras tropicais. O racionamento revelava-se-lhe como a salvação da tripulação para a travessia do Pacífico, que calculava ser longa.

Era verdade, mas nem a passagem para o Pacífico ele tinha ainda descoberto!
A vontade da tripulação era voltar para trás.
Já era suficiente o que tinham feito - nenhum europeu tinha chegado tão a Sul!
Uma comissão parlamentou com o capitão-general, que lhes lembrou o compromisso assumido perante o rei de Espanha.

«O prosseguimento da jornada ao longo da costa da Patagónia já foi uma espécie de fuga para a frente, pois Magalhães não tinha condições pessoais nem políticas para regressar a Castela sem uma descoberta.»
João Paulo Oliveira e Costa, O homem que descobriu o planeta azul,

Vista aérea da atual cidade de San Juan (Argentina)
A 1 de abril, domingo de Páscoa ou domingo de Ramos (a informação varia conforme os autores), Fernão de Magalhães mandou celebrar uma missa em terra.

Pormenor de uma aguarela de Inés Anzoátegui
representando a celebração da missa
 «(...) o primeiro domingo depois que aqui entraram, saíram todos em terra, e disse missa um sacerdote que ia na companhia, a qual ouviram com muita devoção e alegria do espírito, porque havia muitos dias que não fizeram outro tanto. Isto foi no mês de Abril de quinhentos e vinte, havendo já nove meses que partiram de Sevilha.
E mandou o capitão-mor que fossem alguns homens a um monte muito alto que estava aí perto e pusessem nele uma cruz, e pôs-lhe nome Monte de Cristo.»
Fernando Oliveira (escrito entre 1560 e 1570, com base num livro - uma história da "viagem de Fernão de Magalhães escrita por um homem [Gonzalo Gomez de Espinosa?] que foi na companhia")


San Julián - Monumento à primeira missa celebrada
Magalhães também tinha convidado os capitães das naus para, depois da celebração da missa, almoçarem com ele a bordo da Trinidad.
Mas os capitães espanhóis não compareceram ao almoço.

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