sexta-feira, 22 de maio de 2020

O naufrágio da Santiago

«E saindo deste rio andaram mais três léguas, nas quais lhe[s] acalmou o vento bom que levavam, e foi-lhes necessário surgir junto duma praia que ali se fazia; e não tardou muito o vento do mar travessão, que logo se alevantou, com tormenta desfeita tão brava que lhe[s] quebrou as amarras, e querendo-se fazer à vela rompeu-lhes as velas, e não podendo fazer al arribaram em terra; e arribando saltou-lhe[s] o leme; todavia, porque o vento era grande e a nau ia aviada em terra, saiu direita, e saiu que lhe quebrou as amarras, e querendo-se fazer bem fora, porque era a maré prea-mar e o mar grosso da tormenta e a praia limpa, de feição que saiu todo o gurupés em terra, por onde se salvou toda a gente, que não morreu senão somente um negro, que se meteu debaixo da coberta e aí morreu. E tanto que a gente foi em terra foi logo feita a nau em pedaços, e os mantimentos e mercadoria levados pelo mar, senão alguns poucos que o mar lançou em terra, os quais a gente apanhou, e disso se mantiveram com mexilhões e lapas e outro marisco, até que foram providos das outras naus com muito trabalho que até então padeceram. Salvou-se também o ferro e cobre que ficou no lastro, e foi arrecadado depois que vieram as outras naus.»

Fernando Oliveira, Viagem de Fernão de Magalhães escrita por um homem que foi na companhia
(escrito entre 1560 e 1570, com base num relato de viagem de um anónimo [Gonzalo Gomez de Espinosa?])



Depois de alguns dias, dois ou três destes homens passaram "além do rio" numa jangada improvisada e levaram as notícias à frota, enquanto os outros esperaram pelo socorro.
Os batéis das naus levaram-lhes logo mantimentos, fazendo-os regressar à frota, onde foram distribuídos pelas quatro naus restantes.

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